quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

PINOCHET E A SUBLIME HIPOCRISIA MEDIÁTICA

Pinochet teve, portanto, esse lado mau, reprovável, que não merece absolvição, de forma alguma, nem tampouco aplausos. Não há boas ditaduras. Ele teve, porém, a coragem, pouco antes de morrer, de reconhecer, publicamente, os seus erros políticos, coisa que muitos ditadores nunca fazem. Pensemos, por exemplo, nos nossos ditadorzecos domésticos, com aquela pose falsificada de “estadistas”... 
De repente, numa vaga de indignação moral virtuosa, a “consciência” mundial despertou-se. É o pandemónio. Pinochet, o velho general chileno que derrubou Allende, em 1973, é o alvo de todas as críticas, das mais fortes condenações, como se fosse o maior tirano de todos os tempos.
Pinochet é o alvo de todas as queixas dos colectivistas ofendidos. De todas as imprecações e lamentações. Jeremias ressuscitado? Não, claro que não. O assunto é outro. É apenas o espectáculo sórdido dos herdeiros do estalinismo, que confundem Justiça, a nobilíssima arte de atribuir “a cada um o que é seu”, com a imposição mediática de uma “agenda” mesquinha e das suas preferências ideológicas, o dogmatismo puro e duro.
Vejamos com clareza. Quem foi Pinochet? Foi um ditador militar. Violou, gravemente, os direitos humanos no Chile. O seu regime torturou e matou muita gente (cerca de 3000 pessoas, incluindo a “Operação Condor”). Perseguiu os opositores e cometeu muitos erros.
Não há nada que possa desculpar os crimes de Pinochet. Da minha parte, já o tinha sublinhado, alto e bom som, há uns tempos, num artigo de opinião publicado no “Expresso das Ilhas”. Mesmo que ele tivesse morto um único indivíduo, seria igualmente censurável, caso o tivesse feito injustamente. Não se pode tolerar o abuso.
O julgamento moral é implacável. Não aceita relativismos de circunstância. Pinochet teve, portanto, esse lado mau, reprovável, que não merece absolvição, de forma alguma, nem tampouco aplausos. Não há boas ditaduras.
Ele teve, porém, a coragem, pouco antes de morrer, de reconhecer, publicamente, os seus erros políticos, coisa que muitos ditadores nunca fazem. Pensemos, por exemplo, nos nossos ditadorzecos domésticos, com aquela pose falsificada de “estadistas”...
Mas o velho general teve, também, o seu lado positivo, um legado interessante, que a pantomima mediática, num torpe carnaval de mentiras, eivado de interesses inconfessáveis, quer fazer esquecer. A todo o custo, vá-se lá saber porquê!
Pinochet, ao derrubar um regime político decadente (sim, o de Salvador Allende – ver, sobre isso, o brilhante artigo de Claudio Andrés Téllez, “Pinochet e o Chile”, em www.midiasemmascara.org; ver também, no mesmo jornal, o elucidativo apontamento de Cândido Prunes, “Augusto Pinochet, Getúlio Vargas & Cia”), fez importantes reformas económicas, que lançaram o Chile num período de grande crescimento e prosperidade.
Allende criara, recorde-se, um cipoal de miséria, desorganização administrativa e desemprego, na senda do seu inconsequente programa socialista e das alucinantes nacionalizações. A economia chilena, com Allende, estava a seguir os mesmos passos que a China de Mao Tsé Tung ou o Camboja de Pol Pot. Isto é: o desastre económico. Caminhava-se, a passos largos, para o subdesenvolvimento. A nação já não aguentava.
MUDA-SE O REGIME…
Pinochet, influenciado pelos “Chicago boys”, alunos de Milton Friedman, apostou na iniciativa privada, deu espaço aos investimentos estrangeiros. E o Chile ganhou imenso. Antecipou, no fundo, a política híbrida de Deng Xiaoping. A China, após as reformas económicas liberais, cresce, como se sabe, a um rítmo bastante acelerado.
A sua fórmula foi: ditadura política e abertura económica. Deu certo e levou o Chile à plena democracia política. O mesmo sucedeu na Espanha de Franco; a Espanha é o que é hoje.
Para um grande cientista político, Seymour Lipset, a solidez económica é um pilar fundamental do sistema político democrático.
Pinochet sabia que ia ser assim. Podia ter fechado, se quisesse, a economia, mantendo-se por muito tempo no poder, à custa da miséria e ignorância do seu povo. Podia ter seguido a tradição antieconómica do “caudilhismo” latino.
Mas optou pela via contrária. Investiu na produtividade. Recuperou o trilho dos déspotas iluminados, à mistura com o liberalismo económico; deu espaço aos empresários; disciplinou as contas do Estado. Pinochet foi, em certa medida, um mandarim-tipo comprometido com a criação de riqueza.
Chile é, hoje, uma nação moderna, altamente educada, com um excelente nível de rendimento; o país mais bem sucedido e com menos desigualdades na América Latina.
Chile é um país livre e democrático. Neste sentido, Pinochet foi um homem com visão de futuro e deu um grande contributo ao seu país. É um facto. Os marxistas deviam reconhecer este ponto. Não foi Marx quem disse que “a base económica determina a superestrutura”?
Como é que os nossos “moralistas”, que se dizem amantes incondicionais da Justiça, não reconhecem isso? A explicação é simples.
Na verdade, trata-se de um moralismo (mediático) sem qualquer Moral. Um oportunismo político de meia pataca. Qual é o critério para condenar Pinochet? É um critério de natureza ética: os direitos humanos. As liberdades políticas. A ideia é proteger a dignidade humana.
Ora, o regime comunista do senhor Fidel Castro, ditador paternalista que governa sem o consentimento popular, pois não realiza eleições há meio século, matou muito mais ainda.
Tortura os opositores políticos, persegue escritores e poetas cubanos, não admite a liberdade de imprensa, açambarca todos os poderes, lança os dissidentes na prisão, sob as condições mais pungentes e desumanas. E deixa Cuba numa miséria lamentável, numa ditadura tão grotesca, no atraso tecnológico e na bancarrota económica, apesar da sua piedosa litania “progressista”.
No entanto, não merece condenação internacional que se veja, muito menos esse coro barulhento e reprovador das ONGs e dos defensores dos direitos humanos. Que se passa? Pinochet é um irremediável “fascista”. Fidel é um “herói revolucionário”, paparicado, sem o mais leve sentido crítico, nas conferências dos países “não-alinhados”, eleito até, com louvor, para a Comissão dos Direitos Humanos da ONU! Algo não bate certo. Fuzilar dissidentes políticos em massa tem alguma coisa a ver com dignidade humana? Tem, para os inocentes úteis!
E os nossos “moralistas” unilaterais - o que são? Carrascos de circo. Porque seleccionam as vítimas, meticulosamente. Os massacrados por Fidel, Estaline ou Pol Pot são as “boas vítimas”. Não contam. Os que apodrecem, injustamente, nas prisões de Havana não fazem parte da humanidade. Não merecem qualquer defesa. O compromisso “ético” dos nossos sublimes carrascos não é, por conseguinte, com a Justiça; nem com os direitos civis. É com a parcialidade criminosa, que absolve, num estranho juízo moral, certos criminosos políticos, que até são os piores, enquanto condena outros, igualmente reprováveis, mas com menos culpa no cartório notarial da história. Não fosse essa bovina incoerência moral, muitos analistas já teriam evaporado, por mau uso do raciocínio lógico.
A hipocrisia é, para muitos, o elixir da longa marcha da desinformação. Facilita a propaganda totalitária. É o orgasmo utópico, de alta intensidade, que substitui a realidade e ameniza, senão justifica, a barbárie socialista dos kamaradas de todas as latitudes.

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Jurista e Docente Universitário

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